quinta-feira, 31 de julho de 2008

A Viagem

Com a ameaça de Napoleão Bonaparte de invadir Portugal caso esse não se juntasse ao Bloqueio Continental, um antigo plano português começou a ser avaliado. A família real portuguesa deveria fugir para uma de suas colônias, escoltada pela Inglaterra. No dia 24 de novembro de 1807, chegou às mãos de Dom João um jornal francês, com a seguinte notícia: A Casa de Bragança Cessou de Reinar. Com medo de enfrentar os soldados do general Junot, Dom João decide vir para o Brasil.
A saída da família real portuguesa aconteceu na manhã do dia 29 de novembro de 1808, uma manhã ensolarada. Os portugueses que moravam em Lisboa foram assistir a partida, muitos surpresos por terem sido abandonados. Se tal fuga tivesse ocorrido nos dias de hoje, as pessoas logo elegeriam outras pessoas para presidente, governadores e demais cargos políticos. Porém, dois séculos atrás e num país atrasado como Portugal, ser abandonado pela corte era quase como ser abandonado pelos próprios pais. Quando estava na carruagem (não a Real, para disfarçar a fuga), que ia rápido pelas ruas de Lisboa, a Rainha Dona Maria I falou a seguinte frase: "Não corram tanto. Vão pensar que estamos fugindo".
Para não correr muitos riscos, caso os navios fossem atacados por Napoleão ou naufragassem, a família real viajou separada. Porém, os dois herdeiros diretos do trono português, Dom Pedro e Dom Miguel, viajaram com o pai e a avó na nau Príncipe Real. Essa decisão era muito arriscada, porque se algo desse errado, três gerações seriam perdidas. Carlota Joaquina viajou com quatro de suas filhas (Maria Teresa, Maria Isabel, Maria de Assunção e Ana de Jesus) no barco Alfonso de Albuquerque. As outras duas foram no Rainha de Portugal.
Durante a viagem, todos passaram por problemas. Faltavam coisas essenciais em alguns barcos, principalmente os portugueses, como água e lenha. Alguns barcos portugueses foram "reprovados", por não estarem em condições de realizar uma viagem tão longa. Mesmo assim, alguns que seguiram tiveram de passar por reparos ao longo da viagem.
Os tripulantes também passaram por problemas. No navio onde estava Carlota Joaquina, um surto de piolhos atacou quem estava a bordo, inclusive a princesa. As damas tiveram suas cabeças raspadas e tratadas com um pó antisséptico e banha de porco, e suas perucas foram jogadas no mar. Para não desembarcarem carecas, elas usaram turbantes ao chegar ao Brasil, e as brasileiras logo aderiram à idéia, achando que fosse moda na Europa.

Bibliografia do post:
- Revista Desvendando a História Especial, ano 1 número 3, Editora Escala Educacional. Página 30.
- Gomes, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil / Laurentino Gomes. -- São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007
- Schwarcz, Lilia Moritz; Spacca. D. João Carioca: a corte portuguesa chega ao Brasil (1808-1821) -- São Paulo, Companhia das Letras.

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